Miley Cyrus na capa da revista Harper's Bazaar
Miley
Cyrus já esteve aqui antes? A loja de quinquilharias, o
tribunal, a desolada rua principal desta cidade, nas colinas fora de Los
Angeles… tudo isso parece tão familiar. Então, novamente, pode parecer assim
para qualquer um, considerando que é um conjunto de propriedades da Disney em
que inúmeros filmes, programas de TV e comerciais foram filmados. Considerando
o arco, relativamente longo, da carreira de Miley, é possível que o déjà vu que
ela está experimentando, esteja garantido. Ela pisca, entrando na sua memória.
E de repente, seus redondos olhos azuis se abrem. “Eu sabia! ”, ela
grita, quando seu empresário confirma que ela filmou um clipe aqui para seu
álbum Bangerz, lançado em 2013. “Wow”, ela diz. “Parece que isso foi em outra
vida”.
E de certa maneira, foi.
Com 24 anos, Miley Cyrus teve mais vidas que muitos por aí, ela foi atriz quando
criança, rockeira, um ícone da cultura pop e um meme da Internet, com a idade
em que a maioria das pessoas ainda está tentando descobrir sua primeira
identidade.
Hoje ela está novamente no
meio de outra transformação. “Uma transição”, ela chama, sentada na escada
dentro de um armazém, que não é exatamente um armazém, mas sim, um local vazio
com os looks que ela escolheu para seu ensaio fotográfico da Bazaar – pedaços
fluidos e femininos que refletem a suave Laurel Canyon-y, mostrando a estética
do que será seu sexto álbum de estúdio, ainda sem título. Uma coleção de
canções despojadas, com algo de country e pop amigável que toca nas rádios, é a
marca de seu trabalho mais recente, Miley Cyrus & Her Dead Petz, uma
colaboração com o Flaming Lips que ela lançou online e promoveu em uma turnê
que ela usava regularmente um chifre de unicórnio e um pênis de plástico.
“Eu
me sinto realmente bem longe daquela pessoa”, diz Miley,
esticando suas pernas vestidas em uma calça com botões de sino vintage azuis e
brancos, no chão empoeirado. “Eu apenas quero que as pessoas
vejam quem sou eu agora. Eu não estou dizendo que ‘eu nunca fui eu mesma’”, ela
clareou. “Quem eu era no último álbum é
realmente quem eu sou. É só que eu sou vários tipos de pessoa diferentes porque
eu mudo muito.”
FOTO: Harper's Bazaar | Reprodução | |
Nos
últimos meses Miley ficou escondida da mídia, como diz, mas agora as palavras
brotam de sua boca como espuma na champagne. “Acho que estou descobrindo tão
rápido quem eu sou que é difícil manter pra mim”, ela explica.
Sua evolução, e como será
percebida, é o foco. “As pessoas dizem que mudar
é ruim”, ela continua. “Tipo, as pessoas dizem ‘você
mudou’ e é para soar pejorativo. Mas na verdade precisamos mudar todo o tempo.” Especialmente
na música pop, onde a reinvenção é a chave para tudo.
É fácil ver as mudanças de
Miley. Teve seu filme sexy de Nicholas Sparks, A
Última Música, em que ela conheceu seu noivo, Liam Hemsworth; o
incidente fumando salvia, a capa da Vanity Fair em
que ela apareceu nua; uma dança no pole dance no Teen Choice Awards.
E, de repente, ela estava no palco do VMA da MTV em 2013
de sutiã e calcinha fazendo um twerk no Robin Thicke com
uma performance inacreditável que, em suas palavras, “foi um foda-se” para o
sistema que a criou e prendeu. A reação naquela época foi bem ruim.
Os pais cobriram os olhos
das crianças. As avós que de Nashville, onde Miley nasceu, se perguntavam o que
aconteceu com ela. (Bem, exceto uma: “Eu gostei”, disse Mammie, conhecida como
Loretta Jean Palmer Finley, a mãe materna de Miley, que está no estúdio para
suas fotos e comparece a maioria das performances da neta.) Miley parecia levar
com calma. “As vezes me assustava o que
diziam ‘Isso é o que sou’”,ela diz. “As pessoas me conhecem desde
criança e acham que me conhecem. Eu ouvi tantos comentários do tipo ’Nós só
queremos a Miley de volta’, mas você não pode me dizer quem é ela. Eu estou
aqui.”
Então
aconteceu o boom do caso da Nicki Minaj no
mundo. Resumidamente, Miley obviamente poderia ter sido mais sensível ao
criticar o video de “Anaconda” depois que ele não foi indicado como Video do
Ano em 2015 para o MTV Video Music Awards.
Mas é difícil lembrar do momento do programa em que Minaj a chamou de “aquela
puta que teve muito o que falar de mim para a imprensa outro dia” e não sentir
um tormento por Miley, em sua roupa de plástico e dreads numa mulher branca que
parecia devastada enquanto registra o momento de mudança – realmente social-
que aconteceu, e, apesar de suas melhores intenções, ela acabou no lado errado
da história.
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O fato é que Miley é sensível. “Ela não é de confronto”, disse Mammie, quem, enquanto estavamos passeando pelo set, me contou uma história sobre Miley querer ganhar em cima de um parceiro na época de Hannah Montana, que não era amigável. Os detalhes eu não vou repetir para não fazer parecer que Mammie é indiscreta. “Ela só queria que a garota gostasse dela”.
Após o incidente com Minaj,
Miley recuou. Ela saiu em tour para divulgar seu cd que fez com o Flaming Lips,
que Spin chamou “é legitimamente estranho”, de um jeito bom. Ela mudou-se para
Malibu, onde tem um arco-iris pintado em seu estúdio e um espaço de porcos,
todos que ela penteou na manhã das fotos. (“Eu precisava de tempo com meus
porcos porque me faz realmente feliz, de uma forma não apegada, mas de
trabalho”, ela diz). E ela refletiu, coisa que nunca teve muito
tempo de fazer. “Tem muito que não lembro de ter
aproveitado como criança porque tinha muita coisa em minha cabeça”,
Miley diz. “Eu nunca percebi o quanto de
pressão eu tinha e como isso me moldava até tipo este ano.”
Ao falar sobre isso, ela pareceu um pouco brava. “As
pessoas ficavam tão chocadas com algumas coisas que eu fazia”, referindo-se ao seu período de twerk. “Deveria
ser mais chocante quando eu tinha 11 ou 12 anos, que me enchiam de maquiagem,
me faziam colocar uma peruca e eram vários caras mais velhos que falavam o que
eu deveria vestir”,
ela diz, “eu
não queria me tornar uma hater de homens porque eu amo todos os seres humanos,
eu sou uma humanitária”,
ela continua. “A
Beyoncé disse ‘as garotas dominam o mundo’, e isso era uma coisa importante a
ser dita, porque eu acho que nos fazem acreditar que isso não é verdade a nossa
vida toda. Não é de se admirar que muitas pessoas perdem seu caminho ou perdem
quem realmente são porque sempre possuem pessoas falando quem elas devem ser.”
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Durante
seu tempo livre, ela se dedicou totalmente à sua Fundação Happy Hippie,
fundada em 2014, e a qual possui a missão de “reunir os jovens para lutar
contra a injustiça que os jovens sem-teto, LGBT e outras populações vulneráveis
sofrem todos os dias”. Mesmo que no passado Miley tenha se indentificado como
Pansexual, no momento ela encontra-se em uma das relações mais heterossexuais
do planeta. (Ela reatou com o Hemsworth em 2015, e os dois estão noivos, algo
que a pedra brilhante em seu dedo torna difícil de esquecer.) “Quando eu comecei a falar
sobre os direitos dos trans, eu passei horas no telefone todos os dias, falando
com experts, para que eu pudesse falar sobre isso, dentro de um assunto que eu
sabia”, ela diz. “Eu acho que a minha conexão com
as pessoas trans, é: você deveria poder mudar e ser quem você é em qualquer
momento”, ela diz. “Tipo, você não deve ser colado ao
gênero, à idade, à raça. Essas coisas não devem defini-lo. Nós nascemos como
uma tela em branco, e seu trabalho neste planeta, é usar seu tempo para
pintá-la do jeito que você quiser, e você pode apagá-lo e começar de novo
quantas vezes você quiser”.
Tendo feito campanha para Hillary Clinton durante
a eleição presidencial no ano passado, Miley diz que ela ficou “super
perturbada” com o resultado. “Levou tipo três dias para eu
parar de chorar”.
Já feito também outras
vezes, ela apagou sua tela novamente. Até parou de fumar maconha. “Apenas por enquanto”,
ela diz. “Parafraseando o inteligente Justin
Bieber, ‘nunca diga nunca’. Mas agora eu quero estar limpa.”
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Atualmente,
Miley faz sua própria maquiagem para os ensaios fotográficos, e é mínima. Ela
disse que sua última personagem já serviu esse propósito. “Isso se tornou algo que era
esperado de mim. Eu não queria aparecer em ensaios fotográficos e ser a garota
que ia mostrar os peitos com a língua de fora. No começo, isso era tipo dizer
‘Vai se fod**. As garotas deveriam poder ter essa liberdade ou qualquer outra
coisa’. Mas isso chegou a um ponto no qual eu me senti sexualizada.”
E mais, todo mundo está
fazendo isso. “Até no Met Gala, todo mundo
estava com os peitos de fora, todo mundo estava com a bunda de fora, então o
que há de ruim nisso agora?” Ela pergunta. “Para mim seria pior se não
estivessem, na verdade”.
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Miley diz que assim que ela começou a empoderar sua nova identidade, ela perguntou a si mesma “Como eu posso ser o modelo de pessoa que eu deveria ser?”, ela disse me olhando forte. “É, eu apenas disse ‘fod*-se ser um modelo de pessoa’”, ela repetiu. “Quem se importa? O fato de eu ter mostrado meus peitos no passado não faz de mim um modelo de pessoa ruim”.
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