RESENHA CRÍTICA: CORINGA
FOTO: DIVULGAÇÃO/IMDB |
Coringa gira em torno do icônico arqui-inimigo de Batman e é uma história fictícia original e independente, nunca vista antes nas tela de cinema. Um grande filme com grandes acertos ao longo, mostrando a realidade das mentes doentes e do mundo caótico em que vivemos. Coringa não tem superpoderes capaz de destruir a cidade onde nasceu e viveu por muito tempo, mas a sua própria mente cansada e doente é um gatilho para todas as suas crueldades, como forma de devolver todo o sofrimento e indiferença que recebeu por todos que cruzavam o seu caminho. Arthur Fleck luta para encontrar o caminho na sociedade fraturada de Gotham. O personagem é apresentado como um comediante falido que encontra violentos bandidos pelas ruas de Gotham City. Por ter problemas mentais, e a síndrome de riso e choro patológico, não é recebido com bons olhos pela sociedade, que só pensam em si e zombam dos mais frágeis. Preso em uma existência cíclica entre apatia e crueldade, Arthur toma uma péssima decisão que provoca uma reação em cadeia de revolta em toda a população mais pobre de Gotham. Ele meio que vira um líder da revolta.
O personagem tem um carinho e cuidado com sua mãe, que é admirável. A gente consegue sentir todo o carinho e sensibilidade dele. O que é importante, para fazer o público se aproximar do personagem e entender suas revoltas e medos. Mas calma, toda loucura e revolta de Coringa são exploradas por memórias e confissões de sua mãe, ao longo do filme. Tantos traumas, medos e loucura de um ambiente perturbador o tornaram a pessoa que ele é hoje. Assim, como pessoas invadem escolas, sequestram ônibus, todas tem um histórico de violência ou uma saúde mental instável e como a sociedade pode ajudar essas pessoas, quais políticas dão suporte a doenças mentais, que não é algo fácil de se diagnosticar? Não é como quebrar uma perna, é uma doença silenciosa que briga com a própria pessoa.
As expressões corporais e faciais do ator Joaquin Phoenix faz dele um coringa marcante, com uma risada descontrolada que chega a te atormentar, o rosto retorcido, e o corpo em contorções que desafiam a física, Phoenix é muito competente, e algo que você nunca viu em um filme de super heróis e vilão, tanta entrega a um personagem. Você não ousa desviar o olhar dele, pois cada parte do filme e do olhar de Coringa é revelador.
Arthur é um palhaço contratado que sonha em fazer comédia stand-up. Ele e sua mãe (Frances Conroy) vivem na miséria e ficam obcecados durante um talk-show noturno na televisão apresentado por Murray Franklin, interpretado por De Niro em uma cena de sucessão no Rupert Pupkin, que se tornou o seqüestrador de quadrinhos do The King of Comedy . Surpreendentemente, Arthur encontra uma ligação amorosa com Sophie, uma mãe solteira que vive seu prédio. O que uma mulher sexy e carinhosa está fazendo com Arthur? Sim, a conexão a princípio é tão pouco convincente que faz a gente se questionar.
O grande desafio é misturar a hilaridade maníaca de Coringa sem prejudicar a depressão clínica e as explosões de Tourette ( A síndrome de Tourette é um transtorno neuropsiquiátrico hereditário que se manifesta durante a infância, caracterizado por diversos tiques físicos e pelo menos um tique vocal. Estes tiques têm remissões e recidivas características, podem ser suprimidos temporariamente e são precedidos por impulsos premonitórios.) que nunca deixam a psique de Arthur. Quanto do filme é real ou na cabeça de Arthur depende de cada espectador. Você pode rir com esse personagem fascinante, mas não pode rir dele.
Não é de surpreender que o catalisador da transição de Arthur para um príncipe palhaço do crime seja a violência. O palhaço que antes apanhava e era humilhado, é transformado em uma estrela de tabloide, popular o suficiente para inspirar um coro de palhaços mascarados a marchar em protesto contra os ricos, representado pelo candidato a prefeito Thomas Wayne (Brett Cullen), pai de Bruce.
Fleck é convidado a participar do Murray Franklin Live, um ídolo da comédia pra ele, mas acaba sendo humilhado pelo apresentador até que ele toma uma atitude explosivamente contra o apresentador . A simpatia por esse diabo é outra forma de defesa da justiça dos vigilantes? Queria o diretor do filme fazer com que a vítima possa se transformar em vitimador, um fato indiscutível da vida que é uma realidade trágica hoje? Como entretenimento e provocação, o Coringa é simplesmente estupendo.
O filme poderia realmente incitar a violência?
O filme tem grandes cenas de gatilhos de violência por parte de uma pessoa com doenças mentais e uma saúde mental instável. Talvez, se alguém sensível a isso estiver assistindo o filme pode ser que venha a se inspirar nessa história, mas costumo dizer que tudo hoje em dia que vivenciamos pode ser um gatinho para muitas coisas, e que o filme é uma obra fictícia e que reflete muito do que vivemos. Mas assim como, pode influenciar para o mal também pode para o bem. Basta as pessoas ficarem sempre atentas a classificação do filme, a pessoas mais sensíveis a essa situação não é indicada a ir ver o filme. Mas a gente sai do cinema humanizando o personagem e vendo que tudo isso aconteceu pela falta de empatia pelo outro e por causa da desigualdade, onde poucos tem muito, e muitos tem pouco, e o pouco que tem perdem.
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